5.08.2009

Meu herói, meu bandido ..

escutando: Pai

Era pra ser o herói dos filmes de bandidos, desfarçados de mocinhos que tenho vivido por esses anos, era pra ser o exemplo de boa gente, de força, de bom samaritano.
Era pra ser aquele abraço de parabéns pelas vitórias, era pra ser quem me buscaria às 4 em qualquer festinha de garota que ja fui, era pra ser o colo risonho de um choro de mágoa qualquer por namoradinhos bobos da adolescência.
Era pra ser quem me daria esporro pelo primeiro porre, quem me obrigaria a estudar todos os dias pra passar no vestibular, quem me diria que nenhum deles merecia a bonequinha do papai.
E então, sabe-se lá pela vida, se tornou a mágoa, uma das feridas mais aberta que tenho.
Se tornou o silêncio que por mais que eu já tenha me acostumado, o mais torturante.
É de um jeito ou de outro, o abandono que sinto até hoje, por qualquer rejeição que sinto.
É o sentido dos meus olhos encherem de lágrima, quando vejo algo de pai em qualquer filme bobo, é a saudade mais contida e presa, que sinto quando paro pra pensar, a qualquer hora do dia, o assunto que menos gosto de falar, e o que mais rio de mim mesma.
É o perdão que até hoje sonho em dar e receber.
É o amor, que um dia antes da vida me tirar, direi.
É o medo de passar uma vida e eu nunca, nem por um momento, poder ter sentido e lembrado de você como pai.
É um dos motivos de eu não ser, o que eu quero ser, hoje.
Mas tudo o que já passei por você, tudo que ainda vou passar, tudo que já ví pessoas que eu amo passando, todos os dias que eu precisei que você estivesse aqui, todos os dias que eu precisei de um colo, mesmo que calado, seu, todos os dias que eu queria que você demonstrasse um pouco de preocupação, com qualquer que fosse a rotina desse dia-a-dia, todas as festas que você não me buscou ou foi, todos os momentos que eu só precisei de um pai, nenhuma dessas mágoas dói tanto, quanto a do saber que por ser tão igual a você, eu não consigo do mesmo jeito, te perdoar por não ter me dado o amor incondicional que eu precisei, e preciso, por não ter também me perdoado, e por ter me ajudado a fazer e manter essa parede tão densa de concreto, que hoje existe entre nós.

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